
Bananal
por William Bittar
Inicialmente, em 1540, a região era habitada pelos índios Purís, que significa “gente mansa” e desde o período colonial, o Vale do Paraíba constava como rota de viajantes, valorizada a partir do final do século XVII, com a descoberta do ouro nas Gerais e seu posterior escoamento em direção ao porto de Paraty, através da Mantiqueira e depois a Serra do Mar. Ao longo do caminho surgiam ranchos, pousadas, engenhos de torna-viagem para mercadores e tropeiros.
No entanto ainda não existia um caminho terrestre consolidado entre as Capitanias de São Paulo e do Rio de Janeiro, uma opção às viagens marítimas a partir de Paraty. Mesmo idealizada a partir de 1725, só a partir de 1770 a estrada foi aberta pelo Capitão-Mor de Guaratinguetá, Manoel da Silva Reis, por ordem de Martim Lopes Lobo de Saldanha, do Conselho de Sua Majestade. Tratava-se de um caminho “que compreende vinte e tantas léguas de sertão, que ele fez romper pela serra da Bocaina e Paraíba”, mas necessitava de auxílio para sua construção.
O plantio do café, empreendimento mal sucedido nas terras da Corte, espraiava-se pelas margens do médio Paraíba do Sul, transformando o sertão fluminense antes ocupado por modestas povoações, homens rudes, cansados de rasgar a terra em busca do ouro cada vez mais escasso.

A Praça Rubião Junior e o casario histórico da Cidade de Bananal.
Segundo a tradição local, o nome Bananal pode ser atribuído a uma corruptela do termo indígena “banani”, utilizado para indicar o traçado sinuoso do rio local. Outra versão atribui a origem à presença do antigo “Pouso do Bananal”, local identificado pela existência de muitas bananeiras, localizado às margens do chamado Caminho Novo que ligava as províncias de São Paulo e Rio de Janeiro. Este pouso era a parada das tropas de mercadorias para reabastecimento e descanso.
Para explorar a região, foram doadas sesmarias para os interessados em ocupar aquele território. Uma delas, a do Rio Bananal, foi concedida a João Barbosa Camargo e sua mulher que, em 1783, fizeram erigir em suas terras uma modesta ermida dedicada ao Senhor Bom Jesus do Livramento, em torno da qual surgiria o povoado de Bananal.
O desenvolvimento iniciou-se graças aos esforços do comendador Antônio Barbosa da Silva e outros descendentes de Barbosa Camargo. Com a cultura do café, Bananal cresceu até se tornar a cidade mais rica do Vale do Paraíba, no período de 1822 a 1888 aproximadamente.

O Resgate tornou-se uma fazenda em 1828, como dote de casamento de Alda Romana de Oliveira com o coronel Inácio Gabriel Monteiro de Barros.
Os lucros que inicialmente eram aplicados na compra de escravos e ampliação do plantio, reverteram-se posteriormente nas rústicas sedes de fazendas que transformaram-se em faustosos palácios do sertão.
Elevada a condição de Paróquia em 20-01-1811, por Alvará Régio, a capela ficou sendo a matriz local. Nesta ocasião Bananal pertencia à Vila de Lorena até que em 28-11-1816, por alvará da mesma data, foi anexada à Vila de São Miguel de Areias. Em 10-07-1832 foi elevada à condição de Vila; em 06-04-1833 a câmara dividiu o município em 4 distritos: vila de Bananal, Santo Antônio (depois Arapeí), Serra e Rancho. Em 1849 passou à categoria de cidade; e em Março de 1858, pela lei provincial número 16, passou a ser sede de Comarca.

Igreja Matriz do Senhor Bom Jesus do Livramento.
Em 1836, Bananal já era a segunda maior produtora de café de São Paulo e concentrava em suas terras os mais ricos fazendeiros da região, só rivalizando com a progressista Vassouras, situação que perdurou até a Abolição da Escravatura.
O capital acumulado, depositado nos bancos ingleses, era tão expressivo que a vila contou, por algum tempo, com moeda própria e seus barões chegaram a avalizar empréstimos feitos pelo Imperador junto ao Banco Rotschild para enfrentar a Guerra do Paraguai. Só um dos fazendeiros locais, Manoel de Aguiar Valim, proprietário da Fazenda Resgate, contabilizava no testamento, em 1878, cerca de 1% de todo o papel moeda emitido no Brasil em apólices da dívida pública.
Para otimizar o transporte do café, os barões financiaram a construção da Estrada de Ferro Ramal Bananalense, que cruzava as principais propriedades, ligando-as à Barra Mansa. No centro da vila, como símbolo de poder e modernidade, instalaram uma estação ferroviária inteiramente importada da Bélgica, de estrutura e paredes metálicas, inaugurada em 1889.

Estação Ferroviária de Bananal.
Todo o luxo e ostentação tiveram vida efêmera devido a sucessivos e coincidentes episódios: as terras começaram a dar sinais de exaustão, devido a processos predatórios de exploração do solo; a ferrovia Santos-Jundiaí facilitava o escoamento da produção de maneira mais ágil, de pontos mais distantes de São Paulo e finalmente, em 1888, a abolição da escravatura. Iniciava-se uma lenta agonia de centros prósperos que transformavam-se em cidades mortas, cenários de disputas de heranças de fortunas dilapidadas, de cafezais substituídos por pastos, uma decadência com pouca lembrança das glórias de outrora.

A sala de jantar da Fazenda Resgate, hoje nos apresenta o luxo do período áureo do plantio do Café na Região.
Em meados do século XX a abertura da Via Dutra desviou as atenções e praticamente anulou a antiga estrada dos tropeiros que passava por Bananal e outros povoados locais, como Areias e São José do Barreiro. Restaram pequenos povoados, escondidos junto da Serra da Bocaina, sítios que só no final do século XX foram redescobertos como reserva ecologia da Mata Atlântica e têm o Ecoturismo como fonte de renda e de atenção, convivendo com antigos sobrados e grandes sedes de fazenda, com outros donos, muito diferentes de seus originais desbravadores.
Em 15 de Fevereiro de 1991 foi decretado o tombamento do Perímetro Urbano de Bananal pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico. Artístico e Turístico do Estado – CONDEPHAAT, uma tentativa de preservar a memória de um dos mais importantes centros econômicos do período imperial.
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