
Grande Hotel – Memórias dos Salões
O conjunto do Grande Hotel e Termas de Araxá, constitui o mas expressivo exemplar do estilo Missões no Brasil. Tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico desde 1989, o complexo se impões pela monumentalidade, realçada na composição de espaço perfeitamente equilibrada.
Antes do ladro de fora, o olhar é atraído pelo vasto corpo que se divide em dois: o Hotel e as Termas. Os grandes arcos nas fachadas, texturas em pedra e terracota, guarda-corpos e gradis em metal, balcões da Renascença, majestade e vertigem em eclética mistura de referências.
Destaca-se a paciente artesania que reveste as paredes com “pinceladas” circulares, referência ao pitoresco da arquitetura rural europeia.
O hall da entrada principal já anuncia ao visitante que a viagem pelo interior dos edifícios será de tirar o folego. Seu porte grandioso combina lustres de cristal da Boemia, pendentes de um teto com oito metros de altura, o piso em mármore de Carrara e as nuances do travertino romano revestindo as colunas. Nas paredes frontais, lado a lado, dois grandes murais do paulista Joaquim da Rocha Ferreira, autor de maioria das obras de arte do Grande Hotel, levam-nos a percorrer o circuito do ouro e dos diamantes de Minas e nossas estancias hidrominerais.
“Nas extremidades do conjunto, quatro salões de 620m² cada e pé direito de sete metros pasmam quem os adentra. Por ocuparem apenas o térreo e o porão, poupados da carga dos demais pavimentos, esses grandes volumes ostentam vãos generosos, livres de pilares, vistos somente no alinhamento das alvenarias.”
Na ala oeste, o restaurante Estância do Barreiro” (ou simplesmente o grill-room do passado), com seu “rodapé” de quase dois metros em mármore, delicada decoração em gesso nas colunas e amplas varandas que se abrem aos jardins e ao Lago Superior.
Na mesma ala, ao norte, o Salão de Festas, hoje “Belo Horizonte”, palco dos bailes de carnaval e réeveillon e das muitas comemorações por qualquer bom motivo, exibe lustres em metal, cristais bisotados nas portas e janelas e ilhas de serviço em madeira e mármore.
Na ala leste, o “Cine-Teatro Tiradentes”. O Cinema dos anos dourados com rigoroso revestimento em gesso e acústica perfeita, oferece 418 lugares e confortáveis poltronas de época em madeira de lei e couro. As grandes conchas côncavas no teto, além do belo efeito luminoso, fazem milagres com a propagação do som, que chega com a mesma nitidez á primeira ou a ultima fileira, sem qualquer amplificação.
Completa a quadra de ases o magnifico “Salão Minas Gerais”, o Cassino que não sobreviveu nem dois anos, mas marcou época. Cercado de chapelaria, bar, foyer e hall de entrada, sinais de sua frequência de alto estilo, o salão tem o piso todo revestido em pinho e imbuia, compondo um imenso tabuleiro de xadrez. Acrescentam-se os espelhos e lustres de cristal, teto rebaixado em gesso, imensas janelas na frente e no fundo, vidros franceses. O resultado é impressionante.
Os outros salões compõem a beleza do andar térreo. O “Ouro Preto”, a Boite, tem paredes forradas em cerejeira talhada, espelhos, lustres de cristais da Boêmia e um palco inusitado, cujos dois primeiros degraus se movem por ate cinco metros, impulsionados por mecanismo elétrico para formar a pista de dança.
“O Congonhas (antes, Salão de Leitura) tem dois grandes murais de Rocha Ferreira (As Amazonas e Os Sacis), cristaleiras e “rodapés” de um metro e meio de altura em madeira de lei.”
O “Diamantina”, atual sala de jogos, era o antigo “Fumadouro” e Cafeteira. O “Scotch Bar”, onde é possível desfrutar do som cristalino de um piano de época, conserva o estilo inglês, com balcão forrado em couro, paredes revestidas em madeira de lei, poltronas acolhedoras e lustres pendurados por correntes. As mesas dos convivas, muito baixas, talvez sejam sinal de que o projeto, cuidadoso com os humores da política, levou em conta a baixa estatura do patrono Getúlio Vargas.
Ao fundo do hall de entrada brilha o “Solar dos Araxás”, ali onde era o Salão de Inverno dos chás da tarde, fechado em “paredes” de cristal sob um teto com pintura em vidro e iluminação interior, espelhando o límpido céu de Araxá.
Na próxima “esquina” pode surgir um painel sobre azulejos om Dona Beja, pelas mãos de Rocha Ferreira, ou uma pintura retratando o Barreiro Antigo, de Almeida Carvalho. Surpresas dentro de outras, nas largas galerias avarandadas das faces sul e norte, cujo piso é milimetricamente desenhado em pedras portuguesas assentadas em mosaico, uma a uma, com precisão de matriz matemática. Não é por acaso que sempre se entreouve de um bom conhecedor dos meandros daquela obra: “os maiores artistas aqui foram os pedreiros”.
“No vão central, dois elevadores Atlas conduzem ate 14 pessoas de uma vez aos andares acima a uma velocidade, para os anos 40, de espantosos 60 metros por minuto. A primeira incursão, obrigatória, é no segundo andar, onde o tempo parece que parou. La estão as suítes presidencial e governamental, idênticas, a não ser pelas cores, guardadas por um amplo hall e quatro portas com folhas duplas em madeira e vidro”.
Em cada uma, 200 m² de luxo: living room; sala de jantar com lustre francês; tapete persas; cortinas tchecas; moveis Laubisch & Hirth; arandelas de cristal; dormitório principal com duas camas de viúva, à moda inglesa; banheiro com paredes forradas em mármore de alabastro, em pedras de mais de um metro e meio, e piso em Carrara; a um canto, a banheira com agua sulfurosa a 26°C; noutro, as nanicas louças sanitárias, nova evidencia de um design “sob medida” para o presidente baixinho.
Nas varandas que se abrem para o pátio de entrada do Grande Hotel, quase é possível ouvir o discurso inaugural de Vargas e até mesmo vê-lo, mais alto do que era, graças ao contraste do guarda-corpo pigmeu.
O segundo pavimento inteiro, aliás, é o chamado “Andar Memoria”. Além das suítes do presidente e do governador, todos os demais apartamentos e o mobiliário foram restaurados de acordo com o projeto original da década de 1940, visando conservar a memória e o patrimônio histórico.
Os andares superiores seguem o mesmo padrão de requinte, com variações de estilo, disposição, tamanho dos quartos e dos halls.
No sexto andar, o longo corredor se aperta como garganta deixando, no entanto, que os quartos respirem por bons terraços. Uma curiosidade chama a atenção: a exceção do sétimo pavimento, não há apartamentos terminados em sete, mas nenhuma citação explica o fato singular, esoterismo, cabala superstição? O enigma persiste.
Fonte: Rede Tauá de Hoteis