
São Gonçalo de Amarante
Por Ricardo Andrade
Amarante é uma pitoresca cidade no norte de Portugal, com uma história enraizada na vida e obra do seu santo mas acarinhado, S. Gonçalo de Amarante. (Para todos os efeitos São Gonçalo é beato e não Santo, mas isso pouco interessa aos Amarantinos).
São Gonçalo nasceu numa pequena aldeia, próximo de Guimarães em 1187. A família cedo percebeu que este menino era especial e diferente dos demais. A ligação com Deus era forte e por isso S. Gonçalo envereda pela vida religiosa, com uma ideia fixa: percorrer os caminhos santos e esta aventura espiritual fez com que se ausentasse de Portugal durante 14 anos.
Após o seu regresso percebeu que muito tinha mudado na sua aldeia natal e decidiu partir para um local onde podia estar em contacto com Deus. Amarante foi o local “escolhido” e o primeiro contacto com a comunidade não foi a melhor, uma vez que as pessoas eram desconfiadas e pouco hospitaleiras. Contudo, a forma peculiar do Santo surpreendeu os locais, principalmente – conta a lenda – quando S. Gonçalo usou um fio de seda para domar 2 bois bravos.
A partir desta ação, as várias empreitadas do Santo tiveram o apoio e ajuda dos locais e assim acontece com a construção da Ponte de Amarante.
Todavia, as obras de maior relevo e milagrosas vão estar associadas, a algo bem diferente. Este homem tem a capacidade de casar qualquer mulher encalhada, passando a ser conhecido como o casamenteiro das velhas.
Gonçalo de Amarante
Casamenteiro das velhas,
Porque não casas as novas?
Que mal te fizeram elas?
A história deste milagre começa com Inês, uma solteirona que se apaixona por um homem mais novo e comprometido. Numa conversa com o Santo, Inês conta como gostaria de casar com aquele barqueiro, mesmo sendo bem mais velha do que ele. Santo que é Santo, sempre que pode atende aos pedidos e apesar da estupefação de todos, o barqueiro cancela o compromisso com a noiva, para poder casar com Inês.
Todas as mulheres que queiram este pedido realizado, a tarefa é simples. Há que puxar o cordão que o Santo tem na cintura, 3 vezes e pedir com força um marido. S. Gonçalo garante casamento no período de um ano, – mais ano, menos ano. (A dificuldade de hoje em dia é chegar ao cordão do Santo).
A tradição popular destes milagres trouxe um dos doces mais curiosos de Portugal, os Gonçalinhos. Doces em forma de falo, que muita contestação tiveram da igreja, considerando uma heresia associar um falo, a um clérigo.
São Gonçalo associa-se ao culto de fecundidade da terra, salva velhinhas da viuvez, ajudando a casar novamente e ajuda as solteiras a arranjar um bom marido. Dessa forma, honram o Santo com um símbolo, tão antigo quanto a existência humana, o falo.
Nas festas os “quilhõezinhos” de S. Gonçalo passaram a personagens principais, sendo oferecidos às raparigas, numa espécie de engate pouco subtil.
São Gonçalo de Amarante
Casai-me que bem podeis
Já tenho teias de aranha
Naquilo que vós sabeis.
Se fordes ao S. Gonçalo
Trazei-me um S. Gonçalinho
Se não puderdes co`ele grande
Trazei-me um pequenininho.